domingo, 21 de agosto de 2011

Festa do Chá

Eu estava entre xícaras de chá e doses de café, em uma cozinha em que tudo cheirava a pão com manteiga e os talheres, ao bater na porcelana, teciam um elaborada discussão em torno do último capítulo da novela. Tudo tão distante e tão familiar, do lado de fora de uma loja de antiguidades.

Por quantas mãos aqueles artefatos, dispostos desordenadamente na vitrine empoeirada, não teriam passado? Quantas vozes não teriam ouvido, quantas confissões, lágrimas, silêncios, risos, trivialidades não teriam sido testemunhadas pelas peças que agora descansavam placidamente?

Tantas tardes frias e pés gelados e sem meia, arrastando-se pelo piso de pedra; a chuva lá fora e lábios arroxeados ávidos pelo bálsamo recém-saído do fogo.

Vapor enchendo a cozinha…

Vida agridoce, meio-amarga; algumas colheres de açúcar, mas olhe lá, não vá pôr muito, que não faz bem à saúde.

Meia vida, vida inteira do lado de dentro de uma loja de antiguidades.