A menina lançou um olhar triste e resignado para o que sobrara daquele ser outrora tão cheio de vida, com um nó na garganta.
Não havia lágrimas; Os olhos secos, arregalados e sem vida olhavam fixamente para o túmulo daquela a quem cumprimentava todos os dias com um sorriso e algumas palavras alegres e sem sentido, palavras soltas.
Mas ela não achava ruim, aquela conversa mole; em quase 3 anos, não houvera uma manhã sequer em que a encontrasse de mau humor.
Dançara, chorara, cantara e rira na frente dela.
Ela não dançava junto, mas não reclamava. Não sabia cantar e não tinha muito a dizer, mas ouvia com toda a delicadeza do mundo.
Não se abalava, era sempre calma, sempre sensata.
"Eles a mataram", murmurou por fim para o menino a seu lado.
Ele ficou em silêncio por uns instantes, gravemente, e seus olhos seguiram os da menina. Por fim, perguntou em um fiapo de voz:
"Quando foi isso?"
"No Carnaval."
"Entendo."
"Um dia eu saí de casa, e-"
A voz dela falhou. Estava inconsolável.
Ele balançou a cabeça, indignado.
"Isso era tudo o que havia restado dela."
O menino sorriu meio sem graça, e acrescentou, em tom de confissão - a culpa estampada no rosto aflito:
"Se você não tivesse falado, eu nem haveria percebido."
"Como n-?"
Sua voz estava trêmula de incredulidade diante da frieza e insensibilidade do amigo.
Ele deu de ombros, como que se desculpando.
Calaram-se e puseram-se a observar a cova imunda.
"Então é por isso que aqui tinha sombra", ele constatou, rompendo o silêncio.
Ela esboçou um sorriso, hesitante.
"É, vou sentir falta dela. Era uma boa árvore."
Deram as costas ao canteiro e foram embora.
Lembram da sombra, mas não lembram da árvore
segunda-feira, 14 de março de 2011
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